quinta-feira, outubro 26, 2006

Quero uma

terça-feira, outubro 17, 2006

Teresa Jesus

Tenho mais de um século de vida. Nas minhas rugas estão as minhas lutas. Sempre trabalhei. A minha infância foi passada numa fábrica que tinha milhares de trabalhadores, a mexer em cortiça. Casei tarde, aos 28 anos, com um corticeiro chamado Baltasar. Tive um filho e hoje encosto-me a este portão e recordo com saudade esta casinha, onde trabalhei durante 55 anos. Gosto de mexer na fechadura e imaginar que subo as escadas em direcção à sala onde, aos 10 anos, tirava as aparas das rolhas. Tenho 101, mas as forças para andar não me abandonaram. Estou lúcida. E tenho muitos amigos.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Garagem

É o mito do empreendedorismo. Num espaço rectangular, sem luz e sem piada nenhuma nascem ideias milionárias, como a do You Tube ou do Google. Se calhar, o que falta em Portugal são apenas garagens. Talvez não as haja em quantidade suficiente.

sexta-feira, outubro 06, 2006

O Homem Almofada

Vou ao teatro de tempos a tempos. Tenho sempre vontade de ir, mas lembro-me sempre das desilusões que já apanhei e das secas bolorentas que vivi naquelas cadeiras duras. Mas ontem, depois de ver The Pillowman, escrito por Martin McDonagh e encenado por Tiago Guedes, pensei tanto nas histórias que li quando era criança que só por isso já valeu a pena. Escrever é uma responsabilidade enorme e quem utiliza as palavras como ganha pão, depressa se esquece das consequências invisiveis que provoca.

Mudar

Quando tomamos decisões, provocamos coisas nos outros, mesmo que só a nós nos digam respeito. Não é fácil fazer passar mensagens ou mostrar aos que nos rodeiam que não estamos assim tão satisfeitos com a nossa vidinha. Apesar das gargalhadas e da boa disposição, é normal querermos mudar. O mais interessante nisto tudo, é perceber a imagem que reflectimos no espelho, a opinião que os outros têm de nós. Com decisões, baralhamos a estabilidade, a rotina, as verdades que não se mudam e, por isso, se tomam por garantidas. Quando decidimos mudar, mudamos também os outros.

terça-feira, outubro 03, 2006

Encantamento

Quando nos mudamos para um sítio novo, há sempre uma fase de encantamento. Olhamos as ruas de forma diferente, observamos as pessoas com curiosidade genuína, imaginamos e traçamos planos ambiciosos para as tardes de domingo. Depois, quando a novidade passa, começamos a entrar numa rotina contínua, deixando cair por terra alguns dos objectivos iniciais. Passamos a encarar o novo espaço como habitual, os percursos diários tornam-se monótonos e até os pequenos detalhes deixam de ter tanta importância. Não seria magnífico podermos preservar o primeiro olhar, todos os dias? Ver sempre o essencial, aquilo que é "invisível aos olhos", como se lê no Principezinho... Porque é que perdemos o encanto da novidade?