quarta-feira, novembro 22, 2006

Em trânsito

Desde segunda-feira que deixei oficiamente de ser jornalista. Foram cinco anos de muito entusiasmo, stress, angústia, alegria, sofrimento, inquietude. Sobretudo, ricos em experiências. Hoje sou o que sou porque fui jornalista. Nunca teria saído do casulo se não fosse a profissão obrigar-me a soltar a garganta. A minha timidez, a exagerada emotividade, a insegurança, foram ultrapassadas em inúmeras ocasiões, desafios que superei sempre surpreendida comigo mesma. Saio deste período da minha vida com expectativa. Ainda não tenho saudades, porque a verdade é que aquilo que dei ainda não me veio devolvido. Ou talvez seja esta mudança a grande recompensa de nunca ter desistido do sonho.
Quis ser jornalista porque queria fazer a diferança. Seguir aquela ilusão adolescente de combater as injustiças através da denúncia. Enfim, fiz isso algumas vezes. Posso dizer que toquei na vida de pessoas anónimas, lhes dei esperança, lhes ouvi as histórias e desabafos. Mas também dei voz a outras que nem sempre tinham coisas, de facto, importantes para dizer. Quando o trabalho se torna mecânico é hora de parar. E foi assim que procurei outras coisas. Vou para o outro lado da barricada. Há dez anos atrás, consideraria isso uma traição. Hoje não sou tão radical.