quarta-feira, março 22, 2006

Campo

As cidades sempre me fascinaram. Porque conseguem misturar constrastes únicos, porque somos invisíveis quando queremos e chamamos a atenção quando nos apetece. Porque têm barulho, vida, mas também silêncio. Porque ainda há laranjeiras em grandes rotundas.
Mas apesar disso, mudei-me para o campo. O Pinhal Novo é uma vila quase rural, mas tem grandes cidades por perto. Eu sou mesmo assim: gosto de estar longe, mas com a âncora presa e terra à vista. Nas manhãs em que me apetece correr, tenho um encontro marcado com estes amigos da foto. Ainda se assustam quando passo pela vedação. Acham-me estranha. Acho que vou ter saudades deles quando me mudar. Mas só de vez de quando :)

6 comentários:

Anónimo disse...

As mudanças trazem sempre saudades. Mesmo antes de acontecerem.
O bom, é que a qualquer momento, podemos matar as saudades.
Da cidade para o campo é só um saltinho.

Anónimo disse...

Sim, graças às auto-estradas!
Quem és anónimo? Cheira-me a M. M.

escola de lavores disse...

Cheira-te a M. M., mas cheira-te mal :)

Aliás, eu jamais escreveria que "as mudanças trazem saudades" e muito menos "mesmo antes de acontecerem". Eu sou aquela que andava no seu ex-bairro a tratar de assuntos dois dias depois de mudar e já nem se lembrava que ali pertenceu. Sou aquela que ainda hoje passou ao lado da sua primeira casa de viver sozinha e nem olhou para lá.
Quando mudo porque quero, só me importa a novidade. Até eu própria acho estranho :)

Ana Silva disse...

Mal não cheia que o teu perfume é muito bom ;)
Eu tenho saudades de mudanças que ainda não aconteceram. Isto quer dizer que as desejo muito, talvez demasiado, e que já sinto falta delas. O problema aqui é que tenho ânsia das coisas que hão-de vir. Sou impulsiva por natureza.

Anónimo disse...

Ai vai um poema de Teixeira de Pascoaes...



Que saudades eu sinto desta flor,

Que vai murchar!

E desta gota de água e de esplendor,

Um pequenino mundo que é só mar.

E desta imagem que por mim passou

Misteriosamente.

E desta folha pálida e tremente

Que tombou...

Da voz do vento que me deixa mudo,

E deste meu espanto de criança.

Que saudades de tudo eu sinto, porque tudo

É feito de lembrança...

Ana Silva disse...

Obrigada pelo poema. è mesmo isso. Anso a ver ser começo a preocupar-me mais com o que estou agora a viver do que com o que eu vou ser e fazer num futuro próximo ou distante.
Equanto pensamos na gota de água ("um pequeno mundo que é só mar") não saboreamos o que ela nos pode oferecer. Vera vida a passar diante dos nossos olhos sem a conseguir agarrar é do pior que há.